domingo, 21 de fevereiro de 2010

Filosofias


Whatever Works (2009)

Realizador: Woody Allen
Com: Larry David, Evan Rachel Wood, Patricia Clarkson, Ed Begley Jr., Adam Brooks, Lyle Kanouse, Michael McKean, Henry Cavill, Jessica Hecht, Carolyn McCormick, John Gallagher Jr.

Woody Allen regressa ao seu habitat natural novaioquino, depois de um interregno de quatro filmes rodados na Europa, e regressa igualmente à temática que fez dele um dos mais admirados autores do cinema norte-americano, a comédia psicológica, depois de incursões por territórios menos habituais, como o drama e a tragédia de Match Point e sobretudo de Cassandra’s Dream.
Sosseguem pois os fãs do realizador, Woody Allen não perdeu o sentido de humor.
“Whatever Works” traz-nos de volta o incomparável espírito crítico de Allen, recheado do humor inteligente e filosófico a que nos habituou.
No papel principal está Boris Yellnikoff, um brilhante físico aposentado (que chegou a ser nomeado para o Prémio Nobel), às voltas com a sua visão negra, niilista e misantrópica da sociedade. Um papel entregue a Larry David, mas que bem poderia ter sido interpretado por Allen.
O seu mundo é abalado pela entrada em cena de Melody Celestine (Evan Rachel Wood). Uma jovem fugitiva do Mississippi que Boris, relutantemente, acolhe em sua casa.
Dois fugitivos no universo vasto, negro, incomensuravelmente violento e indiferente, nas palavras de Boris (que foram também curiosamente as palavras usadas por Lloyd (Jack Warden) no filme September, realizado por Allen em 1987, para descrever a sua visão científica de um universo terrivelmente assustador, mais aterrador do que a própria morte). Uma astronómica concatenação de circunstâncias permite que os seus caminhos se cruzem, parafraseando uma vez mais Boris, pondo a nu o indeterminismo filosófico de Allen (ou deveria dizer antes o livre-arbítrio militante de Allen).
E essa é, uma vez mais, a mensagem essencial da obra de Allen. A ideia de que o universo è algo totalmente desprovido de sentido, amoral, terrivelmente violento, de que a existência é uma sucessão de tormentos (de imediato vem à lembrança a classificação avançada por Allen em Annie Hall de que a vida se divide entre o horrível e o miserável e de que todos devemos estar gratos se tivermos a sorte de nos encontrarmos entre os miseráveis), mas que, por uma incrivelmente improvável concatenação de circunstâncias, há momentos que tornam a vida digna de ser vivida, há experiências pelas quais vale a pena viver.
Outra ideia repetente na obra de Allen, bem presente neste filme, é a de que o amor se desvanece, que tudo é transitório a começar pelas relações amorosas (love fades…, na expressão usada pela simpática velhinha interrogada por Allen na rua, em Annie Hall). E o seu corolário lógico de que, por mais compatíveis que pareçamos, por mais interesses em comum que tenhamos, por mais exigentes que queiramos ser nas escolhas que fazemos na vida e no amor, no fundo tudo se resume a sorte. Às vezes funciona.
Porquê? Whatever Works… é a resposta de Allen expressa pela personagem Boris.
Desde a ovelha preferida pelo vizinho de Melody no Mississippi até à ménage a trois da emancipada Marietta (Patricia Clarkson), desde o jogo de xadrez no parque até ao prémio Nobel da Física, vale tudo por uma pequena porção de amor, de felicidade, pela mais fugaz experiência de graça. Ou como profetiza Boris a encerrar o filme “Qualquer amor que possa dar ou receber, qualquer felicidade que consiga desviar ou prover, toda a medida temporária de graça, o que quer que funcione…” (“Whatever love you can get and give, whatever happiness you can filch or provide, every temporary measure of grace, whatever works…”).
Vá-se lá saber…

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Segredos da Justiça


El Secreto de Sus Ojos (2009)

Realizador - Juan José Campanella
Com: Ricardo Darín, Soledad Villamil, Pablo Rago, Javier Godino, Guillermo Francella, José Luis Gioia, Carla Quevedo, Bárbara Palladino, Rudy Romano, Mario Alarcón, Alejandro Abelenda

Escrito por Juan José Campanella (baseado no romance “La Pregunta de Sus Ojos”, de Eduardo Sacheri) “El Secreto de Sus Ojos” é um poema negro sobre a condição humana. Uma reflexão profunda sobre a vida e a morte, o amor e a paixão, a justiça e a sua ausência.
Chegado à reforma, um funcionário judicial, Benjamín Esposito (Ricardo Darín), decide escrever um romance sobre o caso que marcou a sua vida, pessoal e profissional. O caso Morales. Um odioso crime ocorrido em 1974, em que uma bela jovem, Liliana Coloto (Carla Quevedo), foi brutalmente violada e assassinada em sua casa.
Contando apenas com a ajuda do colega alcoólico Pablo Sandoval (Guillermo Francella) e da bela juíza estagiária Irene Menéndez Hastings (Soledad Villamil), Benjamin luta contra o sistema judiciário e político determinado a solucionar o caso e a levar o responsável à cadeia. Mas a tarefa revela-se difícil e ingrata. Importantes interesses se levantam contra os seus esforços, e o criminoso, Isidoro Gómez (Javier Godino), depois de julgado e condenado, é libertado e colocado ao serviço do poder corrupto, sempre carenciado de assassinos competentes.
A obra lança assim um olhar acusador ao poder argentino do período peronista, ao seu sistema judiciário e político, e simultaneamente convida-nos à reflexão sobre questões essenciais geradas pela violência e pela ausência de uma Justiça eficaz. Como lidar com a morte violenta de quem amamos? Como sobreviver às injustiças de um sistema corrupto e ineficaz? Será possível reparar um tão hediondo crime?
A ausência de respostas a estas perguntas tornaria a vida de qualquer um insuportável. Um castigo pior do que a morte libertadora.
Paralelamente Benjamin lida com outra questão insolúvel, o seu amor inconfessado por Irene. Insolúvel porque a diferente condição social e profissional o impedem de qualquer avanço, seguindo ambos caminhos separados e desapaixonados.
Vinte e cinco anos depois, reformado mas inconformado, Benjamin escreve para libertar os seus fantasmas. Mais do que responsáveis, ele busca respostas que dêem algum sentido à sua vida. E acabará por encontrá-las.
Há coisas que o tempo não consegue apagar. Pessoas que não se conformam com as incapacidades do sistema e a Justiça pode ter muito pouco a ver com Tribunais e processos.
Finalmente reconciliado consigo próprio e com a vida, Benjamin enfrenta os seus medos e os fantasmas do passado.
Com uma renovada confiança no futuro.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Desigualdades


Entre Les Murs (2008)

Realizador: Laurent Cantet
Com: François Bégaudeau, Agame Malembo-Emene, Angélica Sancio, Arthur Fogel, Boubacar Toure, Burak Özyilmaz, Carl Nanor, Cherif Bounaïdja Rachedi, Dalla Doucoure, Damien Gomes

Vencedor em 2008 da Palma de Ouro em Cannes e nomeado para o Óscar de melhor filme estrangeiro, “Entre Les Murs” é um projecto quase pessoal de François Bégaudeau, autor do livro homónimo que co-adaptou ao cinema e protagonizou sob a direcção de Laurent Cantet.
A obra propõe uma reflexão fortemente crítica mas surpreendentemente subtil sobre o sistema de ensino francês que, por extensão, poderá ser igualmente aplicada à maioria das sociedades do “mundo rico” e democrático.
Estarão os nossos sistemas de ensino aptos a enfrentar os problemas decorrentes da globalização e dos intensos fenómenos de migração com que as sociedades actuais se debatem?
Como pode um jovem professor de francês, preso a um programa escolar rígido e frequentemente informado de intenções uniformizadoras, enfrentar uma turma de alunos totalmente heterogénea, formada por filhos de emigrantes do Mali, da Tunísia, de Marrocos, da Argélia, da China, das Antilhas Francesas, de Portugal, da Costa do Marfim, e de outras tantas nacionalidades?
Que cidadãos nascerão deste choque cultural? Existirá uma verdadeira igualdade de oportunidades, pressuposto essencial da democracia, quando numa mesma sala convivem jovens culturalmente tão diversos, presos a programas e matérias manifestamente concebidos para sociedades uniculturais?
Será legítima a imposição de um padrão cultural dominante através do sistema de ensino? Existirá ainda (se é que alguma vez existiu) a França dos manuais escolares?
O filme não dá respostas a estas perguntas, excepto o vazio.
O vazio das salas de aula no final do ano lectivo.
O vazio das expectativas dos alunos, uns conformados, outros inconformados com as incapacidades do sistema.
Haverá sempre a selecção entre a via de ensino e a via profissional.
E quem não quiser seguir a via profissional, como pertinentemente pergunta uma aluna ao professor no final do ano lectivo? Haverá igualdade de oportunidades para esses?
O problema não é novo, outras sociedades, como a norte-americana, enfrentam-no há mais tempo e outros cineastas já o levaram ao grande ecrã de forma bastante conseguida, a começar pelo clássico de 1955, superiormente escrito e realizado por Richard Brooks, “Blackboard Jungle”.
Mas as sociedades contemporâneas são substancialmente diferentes da sociedade norte-americana dos anos 50, ainda que alguns problemas possam ser comuns.
O conflito geracional ampliado pelas questões raciais foi a principal preocupação expressa no filme de Brooks, numa crítica subtil ao McCartismo, então no auge de influência, que propunha o conservadorismo dos valores tradicionais da América reaccionária como denominador comum, mas dificilmente aceitável, de uma sociedade essencialmente diversa.
Mas será que a Europa, mergulhada num ambicioso processo de união política e económica alargada e defensora de valores declaradamente tolerantes, diria mesmo estimulantes, da diversidade, consegue fazer melhor?
Qual o denominador comum nestas sociedades, cada vez mais heterogéneas? O futebol?
Como já referi, o filme não fornece respostas. Apresenta-nos a incoerência do presente e propõe-nos uma sala vazia como ponto de partida para a construção do futuro. De um sistema mais justo e eficaz que garanta uma efectiva igualdade de oportunidades, respeitadora da diversidade cultural.
Será uma utopia?

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Toque de Midas


Slumdog Millionaire (2008)

Realizador: Danny Boyle e Loveleen Tandan
Com: Dev Patel, Saurabh Shukla, Anil Kapoor, Rajendranath Zutshi, Jeneva Talwar, Freida Pinto, Irrfan Khan, Azharuddin Mohammed Ismail, Ayush Mahesh Khedekar, Jira Banjara

Slumdog Millionaire é um filme revelador.
Revelador de que as coisas em Hollywood já não são o que eram (apesar de britânico o filme é co-produzido e distribuído pela Fox). De que a tradicional grande produção destinada à família média já não chega e de que o cinema, mais do que nunca, busca uma identidade universal espelhada não apenas na conquista de públicos fora de portas, mas também de ideias, de actores e de parceiros na produção.
A co-produção, princípio geralmente associado à pequenez financeira dos projectos europeus, que busca, através da partilha do risco, concorrer com o poderoso mercado norte-americano, assume-se aqui não como uma limitação mas antes como uma vantagem, pela diversidade e universalidade que acarreta.
Neste particular a opção pela Índia é claramente indiciadora da importância deste mercado (é o maior produtor e consumidor mundial de filmes) e do apetite dos grandes estúdios de Hollywood por ele, consequência de décadas de difícil penetração. Se o público indiano não se deixa levar com facilidade pela mega produção típica hollywoodesca há que fabricar um produto à sua medida, recorrendo, para tal, a co-produções com empresas locais, capazes de fornecer condições privilegiadas de trabalho e bem assim de direccionar o mesmo no sentido dos gostos do gigantesco público do subcontinente asiático.
Grande vencedor da Cerimónia dos Óscares de 2009, revela igualmente que tal estratégia, já expressa em filmes anteriores como Crash ou Babel, está perfeitamente sancionada pela Academia, o mesmo é dizer pelos profissionais do cinema, críticos incluídos.
Mas Slumdog Millionaire é também revelador de uma Índia dos bairros difíceis e dos conflitos raciais e religiosos, que poucas vezes tem chegado ao cinema. De certa forma é a Cidade de Deus e a Gomorra de Mumbai que surgem no ecrã, mostrando-nos uma faceta adivinhada, mas raras vezes vista em cinema, da sociedade indiana. Uma faceta negra da “maior democracia do mundo” que a literatura e o jornalismo já tinham revelado ao Ocidente mas à qual o cinema tem virado as costas, preferindo o exotismo da Índia histórica e monumental ou o glamour das estrelas de Bollywood.
Aqui a tradicional visão alienante da televisão, representada pelo concurso mundialmente famoso “Quem Quer Ser Milionário”, é substituída pela perspectiva mais optimista da válvula de escape. Escape para os poucos que têm a sorte de conquistar um lugar ao sol, fruto dos seus chorudos prémios, mas também para os milhões que assistem hipnotizados, através dos ecrãs colectivos, à metamorfose dos seus semelhantes. Da favela para o passeio da fama. De zero a herói pelos efeitos incontornáveis do rei dólar. A televisão como o lendário rei Midas, capaz de transformar em ouro tudo aquilo em que toca.
Poderá criticar-se a visão excessivamente miserabilista transmitida pelo filme, que não resiste a usar um acentuado dramatismo como meio de melhor cativar, sensibilizar e até horrorizar o espectador. Esta é uma visão parcial da Índia, mas não é por isso menos verdadeira. E porque razão não deveria a ficção ser parcial? A arte não visa o rigor informativo (o que quer que isso seja) mas antes a percepção individual, única, pessoal e, por isso mesmo, essencialmente parcial da realidade.
É ainda uma obra reveladora de um cinema visto com algum desdém no ocidente. A confirmação de que a Índia, com a sua poderosa indústria cinematográfica, é capaz de produzir cinema de qualidade e de carácter universal e não apenas musicais românticos destinados a consumo interno e da respectiva diáspora. De que na Índia existem grandes profissionais do cinema, actores incluídos, capazes de rivalizar com o que de melhor se produz no ocidente, a começar pelos Estados Unidos da América.
É por isso uma obra de inegável mérito e valia. Um olhar diferente e muito humano sobre um mundo quase desconhecido. Uma prova de vitalidade do cinema indiano e, também, da aposta globalizante da grande produtora norte-americana.
E já agora, para nós portugueses, é também revelador de uma belíssima actriz de ascendência lusitana, Freida Pinto, demonstrativa também do universalismo da semente nacional.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Sentido de Dever


High Noon (1952)

Realizador: Fred Zinemann
Com: Gary Cooper, Thomas Mitchell, Lloyd Bridges, Katy Jurado, Grace Kelly, Otto Kruger, Lon Chaney Jr., Harry Morgan, Ian MacDonald, Eve McVeagh, Morgan Farley, Harry Shannon, Lee Van Cleef


Rio Bravo (1959)

Realizador: Howard Hawks
Com: John Wayne, Dean Martin, Ricky Nelson, Angie Dickinson, Walter Brennan, Ward Bond, John Russell, Pedro Gonzalez Gonzalez, Estelita Rodriguez, Claude Akins, Malcolm Atterbury

Por vezes os filmes são como as cerejas, uns puxam os outros.
Foi assim com esta incursão pelo western proporcionada pelo remake de 3:10 to Yuma, de James Mangold. Serviu de pretexto não apenas para o visionamento do original de 1957, da autoria de Delmer Daves, mas também de duas obras fundamentais do western dos anos 50, intimamente ligadas a este projecto: High Noon, de Fred Zinemann, o seu principal inspirador, e Rio Bravo, de Howards Hawks, uma das suas principais consequências.
Estamos perante dois dos melhores exemplos do western adulto da década de 50. Filmes em que o argumento procura construir um retrato psicológico dos principais personagens, em que a violência é, de algum modo, sustentada pelas tensões psicológicas construídas à volta dos protagonistas.
É assim com a solidão forçada e honrada dos agentes da lei John T. Chance (John Wayne) e Will Kane (Gary Cooper), com o alcoolismo de Dude (Dean Martin), a invalidez de Stumpy (Walter Brennan), o despeito de Harvey Pell (Lloyd Bridges) ou a solidariedade de Colorado Ryan (Ricky Nelson). É ainda assim com o orgulho ferido dos criminosos Joe Burdette (Claude Akins) e Frank Miller (Ian MacDonald).
Por outro lado é interessante analisar a importância dos personagens femininos em ambos os filmes. Feathers (Angie Dickinson) e Amy Kane (Grace Kelly) fogem de passados de crime ou violência e procuram, através do relacionamento com os heróis, a estabilidade familiar e a segurança que lhes foi sempre recusada. Representam para Chance e Kane a luz ao fundo do túnel da sua vida de violência. Uma luz que teima em não chegar.
Interessante é também o personagem de Helen Ramirez (Katy Jurado), o fantasma do passado dos dois contendores, a semente do mal prestes a ser libertado, que prefere a fuga ao regresso ao passado de dor e violência. Consciente de que a cidade virará as costas aos princípios na hora da verdade, compreende que nada restará para ela se ficar. Nem o respeito de e para com os seus concidadãos, nem o amor (e porventura até a vida) de Kane, que escolheu o casamento com Amy.
Estamos perante duas obras que obrigam os seus principais personagens ao confronto com os mais profundos medos, valores e princípios.
Em qualquer dos casos era possível a fuga. A cedência à lei do mais forte para garantir o futuro. Todos (ou quase todos, Chance conta com a ajuda de um bêbado e um aleijado, na expressão usada por Burdette) optam pela solução mais fácil, por virar as costas ao problema, com os mais variados argumentos. Todos menos Kane e Chance.
Contra tudo e contra todos, mesmo contra as melhores probabilidades, lutam pelos valores que defendem, saem-se bem da tarefa e colhem os louros da vitória, personificados no amor de Feathers e Amy. Antes uma morte honrada que uma vida indigna.
Também Kane e Stumpy ganham o respeito e a dignidade pela persistência. O primeiro vence finalmente o alcoolismo e o segundo prova perante todos a sua valia, apesar das limitações físicas.
Em High Noon há um alcoólico, Jimmy (William Newell), que oferece a sua ajuda a Kane, mas este recusa. Howard Hawks recupera esse personagem em Rio Bravo e dá-lhe uma nova dimensão e dignidade através de Dude “El Borrachón”.
Contudo apenas Chance e Kane lutam pelos princípios. Nada têm a provar a ninguém, nem sequer a si mesmo. Lutam por consciência de ser esse o seu dever, pela defesa da justiça e dos princípios mais básicos da vida em sociedade. Colorado Ryan acompanha mais tarde Chance nesse desígnio, mostrando talvez que a sua sucessão está assegurada. Que haverá sempre alguém com a dignidade de lutar pelo que é justo sem esperar nada em troca.
Um pequeno toque optimista que Zinemann não introduziu no seu filme. Em High Noon a luta é solitária e pessoal. Perante a indiferença de todos, que só pretendiam o conforto da fuga de Kane, este encara de frente o seu destino contando apenas com a ajuda inesperada da mulher. Logo após a morte de Miller, o casal parte rumo ao futuro, deixando a cidade entregue à sua má consciência.
São valores básicos os que se confrontam no western, mas, por isso mesmo, são valores universais e intemporais.
Numa sociedade marcada pela corrupção e pela constante escolha da via mais fácil, mais confortável, como a que vivemos, fazia bem a muita gente ver filmes como estes.
Filmes em que a honra e a dignidade comandam a vida dos homens, mesmo perante as mais sérias adversidades.

High Noon Trailer


Rio Bravo Trailer