domingo, 7 de fevereiro de 2010

Sentido de Dever


High Noon (1952)

Realizador: Fred Zinemann
Com: Gary Cooper, Thomas Mitchell, Lloyd Bridges, Katy Jurado, Grace Kelly, Otto Kruger, Lon Chaney Jr., Harry Morgan, Ian MacDonald, Eve McVeagh, Morgan Farley, Harry Shannon, Lee Van Cleef


Rio Bravo (1959)

Realizador: Howard Hawks
Com: John Wayne, Dean Martin, Ricky Nelson, Angie Dickinson, Walter Brennan, Ward Bond, John Russell, Pedro Gonzalez Gonzalez, Estelita Rodriguez, Claude Akins, Malcolm Atterbury

Por vezes os filmes são como as cerejas, uns puxam os outros.
Foi assim com esta incursão pelo western proporcionada pelo remake de 3:10 to Yuma, de James Mangold. Serviu de pretexto não apenas para o visionamento do original de 1957, da autoria de Delmer Daves, mas também de duas obras fundamentais do western dos anos 50, intimamente ligadas a este projecto: High Noon, de Fred Zinemann, o seu principal inspirador, e Rio Bravo, de Howards Hawks, uma das suas principais consequências.
Estamos perante dois dos melhores exemplos do western adulto da década de 50. Filmes em que o argumento procura construir um retrato psicológico dos principais personagens, em que a violência é, de algum modo, sustentada pelas tensões psicológicas construídas à volta dos protagonistas.
É assim com a solidão forçada e honrada dos agentes da lei John T. Chance (John Wayne) e Will Kane (Gary Cooper), com o alcoolismo de Dude (Dean Martin), a invalidez de Stumpy (Walter Brennan), o despeito de Harvey Pell (Lloyd Bridges) ou a solidariedade de Colorado Ryan (Ricky Nelson). É ainda assim com o orgulho ferido dos criminosos Joe Burdette (Claude Akins) e Frank Miller (Ian MacDonald).
Por outro lado é interessante analisar a importância dos personagens femininos em ambos os filmes. Feathers (Angie Dickinson) e Amy Kane (Grace Kelly) fogem de passados de crime ou violência e procuram, através do relacionamento com os heróis, a estabilidade familiar e a segurança que lhes foi sempre recusada. Representam para Chance e Kane a luz ao fundo do túnel da sua vida de violência. Uma luz que teima em não chegar.
Interessante é também o personagem de Helen Ramirez (Katy Jurado), o fantasma do passado dos dois contendores, a semente do mal prestes a ser libertado, que prefere a fuga ao regresso ao passado de dor e violência. Consciente de que a cidade virará as costas aos princípios na hora da verdade, compreende que nada restará para ela se ficar. Nem o respeito de e para com os seus concidadãos, nem o amor (e porventura até a vida) de Kane, que escolheu o casamento com Amy.
Estamos perante duas obras que obrigam os seus principais personagens ao confronto com os mais profundos medos, valores e princípios.
Em qualquer dos casos era possível a fuga. A cedência à lei do mais forte para garantir o futuro. Todos (ou quase todos, Chance conta com a ajuda de um bêbado e um aleijado, na expressão usada por Burdette) optam pela solução mais fácil, por virar as costas ao problema, com os mais variados argumentos. Todos menos Kane e Chance.
Contra tudo e contra todos, mesmo contra as melhores probabilidades, lutam pelos valores que defendem, saem-se bem da tarefa e colhem os louros da vitória, personificados no amor de Feathers e Amy. Antes uma morte honrada que uma vida indigna.
Também Kane e Stumpy ganham o respeito e a dignidade pela persistência. O primeiro vence finalmente o alcoolismo e o segundo prova perante todos a sua valia, apesar das limitações físicas.
Em High Noon há um alcoólico, Jimmy (William Newell), que oferece a sua ajuda a Kane, mas este recusa. Howard Hawks recupera esse personagem em Rio Bravo e dá-lhe uma nova dimensão e dignidade através de Dude “El Borrachón”.
Contudo apenas Chance e Kane lutam pelos princípios. Nada têm a provar a ninguém, nem sequer a si mesmo. Lutam por consciência de ser esse o seu dever, pela defesa da justiça e dos princípios mais básicos da vida em sociedade. Colorado Ryan acompanha mais tarde Chance nesse desígnio, mostrando talvez que a sua sucessão está assegurada. Que haverá sempre alguém com a dignidade de lutar pelo que é justo sem esperar nada em troca.
Um pequeno toque optimista que Zinemann não introduziu no seu filme. Em High Noon a luta é solitária e pessoal. Perante a indiferença de todos, que só pretendiam o conforto da fuga de Kane, este encara de frente o seu destino contando apenas com a ajuda inesperada da mulher. Logo após a morte de Miller, o casal parte rumo ao futuro, deixando a cidade entregue à sua má consciência.
São valores básicos os que se confrontam no western, mas, por isso mesmo, são valores universais e intemporais.
Numa sociedade marcada pela corrupção e pela constante escolha da via mais fácil, mais confortável, como a que vivemos, fazia bem a muita gente ver filmes como estes.
Filmes em que a honra e a dignidade comandam a vida dos homens, mesmo perante as mais sérias adversidades.

High Noon Trailer


Rio Bravo Trailer

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