
3:10 to Yuma (2007)
Realizador: James Mangold
Com: Russell Crowe, Christian Bale, Logan Lerman, Dallas Roberts, Ben Foster, Peter Fonda, Vinessa Shaw, Alan Tudyk, Luce Rains, Gretchen Mol, Lennie Loftin, Rio Alexander

3:10 to Yuma (1957)
Realizador: Delmer Daves
Com: Glenn Ford, Van Heflin, Felicia Farr, Leora Dana, Henry Jones, Richard Jaeckel, Robert Emhardt, Sheridan Comerate, George Mitchell, Robert Ellenstein, Ford Rainey
Confesso que sou um apreciador do western. Um género que caiu em desuso há muito e que, de tempos a tempos, reaparece solitariamente nos ecrãs, fruto da teimosia de alguns saudosistas para satisfação de outros, como eu.
Geralmente em boas produções que lhe fazem justiça.
Cinquenta anos depois James Mangold refez um clássico de Delmer Daves, escrito por Halsted Welles a partir de um conto da autoria de Elmore Leonard. O argumento do novo filme contou ainda com algumas revisões da autoria de Michael Brandt e de Derek Haas.
E o argumento é, sem dúvida, o prato forte desta obra, que inspiraria (juntamente com High Noon, realizado por Fred Zinnemann em 1952) Howard Hawks a realizar o famoso Rio Bravo em 1959.
Os anos 50 trouxeram uma nova dimensão ao western, uma consciência social. 3:10 to Yuma é claramente um dos bons exemplos de um western maduro a que o argumento de Welles empresta ainda uma tensão psicológica que o aproxima do thriller.
Por isso, ao vermos o clássico de 1957, parece-me forçoso concluir que este remake era de todo desnecessário. A obra original mantém todo o seu interesse, na excelente cinematografia a preto e branco de Charles Lawton Jr., na realização competente de Daves e nos excelentes desempenhos dos dois protagonistas, Glenn Ford e Van Heflin, além, claro está, do belíssimo argumento.
Felizmente, apesar de desnecessário, o filme de Mangold não resulta num mero pretexto para levar aos cinemas as fãs de Russell Crowe. Embora algumas das alterações ao argumento, sobretudo o final, possam ser polémicas, penso que quem assistir ao filme não dará o seu tempo por perdido, e assistirá, ainda assim, a um bom western, competentemente dirigido e bem interpretado pela dupla Russell Crowe e Christian Bale, contando com bons valores de produção. Ainda que nada acrescente de relevante à obra original.
Ben Wade (Glenn Ford, Russell Crowe) é um notório assaltante de diligências que aterroriza, com o seu bando, as cidades do árido Arizona. Após um assalto deixa-se reter por uma velha paixão na cidade de Bisbee o que permitirá a sua captura. Torna-se contudo necessário levá-lo até à prisão estadual de Yuma, mas todos temem a reacção do bando, que tudo fará para libertar o seu chefe.
Dan Evans (Van Heflin, Christian Bale) é um modesto fazendeiro de Bisbee a braços com dificuldades económicas decorrentes da seca, que não consegue resolver. Quando Mr. Butterfield (Robert Emhardt, Dallas Roberts), dono da companhia de diligências (no remake de Mangold, Butterfield é dono de uma companhia ferroviária que ameaça as terras de Evans e a diligência assaltada, o seu carro de transporte de valores), oferece uma choruda recompensa para quem o queira acompanhar na escolta do prisioneiro até Contention, local onde será enviado no comboio das 3:10h para Yuma, Evans vê a sua derradeira oportunidade para salvar a quinta e a família da miséria, e aceita.
Inicia-se então um intenso drama psicológico que opõe Wade, um ladrão que vai adquirindo respeito pela dignidade e ética do fazendeiro, e Evans, o homem sério que vê a sua coragem e honestidade serem colocadas permanentemente à prova pelos constantes aliciamentos de Wade e pelo terror incutido pelo seu bando.
A presença da família de Evans ajuda a construir o perfil psicológico dos dois personagens. Por um lado o foragido galante e conhecedor do mundo, que consegue atrair com o seu charme a mulher de Evans (Leora, Dana, Gretchen Mol) e com a sua coragem os filhos do casal (Barry Curtis e Jerry Hartleben, Logan Lerman e Benjamin Petry) e que, de certo modo, inveja a vida familiar do fazendeiro, vedada pela opção que tomou pelo crime. Por outro o pacato agricultor que quer mostrar à mulher e aos filhos, e sobretudo a si mesmo, que também ele é um homem de coragem e de valor, apesar da vida miserável que leva e que proporciona à sua família. Um misto de inveja e de despeito, além da necessidade do dinheiro, levam-no a aceitar a ingrata tarefa.
Esta permanente oposição de valores conduz contudo a que ambos dediquem ao outro um respeito que se vai intensificando até final, à medida que, pelo contacto permanente, melhor se conhecem. E no fundo a história revolve à volta disso mesmo, dos valores que ambos acalentam, apesar de todas as vicissitudes (o crime, a pobreza, o facto de se encontrarem em lados opostos da lei). Aí reside a essência da condição humana e por isso ambos vêem crescer um sentido de respeito, de dignidade, um pelo outro, apesar de se encontrarem no lado oposto das armas.
O esperado duelo final, em que o bando de Wade finalmente defronta o guardião do seu chefe, aparece assim como um confronto contra-natura, simultaneamente aguardado e indesejado pelos dois protagonistas. Wade compreende que a derrota de Evans será de algum modo também a derrota de um homem honrado e dos princípios em que acredita. Evans por seu turno precisa de entregar aquele homem, por quem desenvolveu respeito e amizade, não só para salvar a sua quinta mantendo íntegra a sua honra, mas também para reconquistar o respeito por si próprio, atenta a vida dura que tem imposto à sua família.
Nesse sentido parece-me irrelevante a alteração perpetrada no final do filme, no remake de 2007. O essencial da obra está precisamente na construção desse respeito mútuo que leva à entre ajuda dos protagonistas, no duelo final rumo ao comboio para Yuma. Em ambos Evans consegue os seus objectivos com a colaboração de Wade.
Em ambos Evans ganha o respeito de todos e recupera o seu amor-próprio.
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